Eu não me pegaria - Clarissa corrêa

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                     O ideal está um pouco longe da verdade. Eu queria ter cabelo liso e um fio bem grosso, mas meu cabelo é ondulado e os fios são extremamente fininhos, tipo de bebê. Queria ser canhota, acho bonito. Queria que meu dente não tivesse entortado depois que o siso nasceu (o desgracento jogou por água abaixo os três anos e meio de aparelho que usei). Queria ter menos bunda, menos peito. Mas as coisas não são bem assim.

Vez ou outra toda mulher tem medo do próprio espelho. A causa? Um punhado de motivos: TPM, quilos a mais, espinha, novo foco de celulite, nova estria, novo pé de galinha, novo fio de cabelo branco, varizes recentes. Não importa. As novidades que o espelho oferece nem sempre são agradáveis. Por isso, ao invés de escondê-lo com um lençol (que nem os antigos faziam quando dava temporal) a gente simplesmente finge que ele não existe. Espelho, pra quê?
Você está linda, gostosa, de bem consigo mesma e com a vida. Feliz no próprio corpo, em paz com a própria alma. Então, você conhece um cara lindo, gostoso e vocês descobrem que querem ficar juntos. Um de bem com a vida do outro. Então, você tem companhia aos sábados à noite, aos domingos pela manhã, seus dias ficam mais floridos, cheirosos, coloridos. E gordos. Jantinha aqui, happy hour ali, almocinho acolá. Receita nova, restaurante novo. E assim você vai percebendo que sua calça jeans está um pouco apertada. Tudo bem, é só maneirar um pouquinho que tudo logo se ajeita. Então, a calça jeans não entra mais nem na coxa. Tudo bem, você tem outros modelos. Então, os outros modelos simplesmente não servem mais. Tudo bem, algum santo inventou a legging preta. Então, ele diz que nem reparou que você engordou 12 (d-o-z-e) quilos depois que começaram a namorar. E você não acredita. Você nota, seu guarda-roupa nota, o porteiro do prédio nota, suas colegas de trabalho notam, seus pais notam, suas amigas de infância notam, seu psicanalista nota. Mas ele, lindo, gostoso e mentiroso, não nota. Até que um dia ele diz é, você está um pouco acima do peso, mas eu te amo mesmo assim. Tudo bem, tudo bem, eu também me amo mesmo assim, mas minhas calças não entram, cacete! Até que. Você olha para o espelho, se sente um boto rosa, uma baleia orca, a mulher mais gorda que a Terra já conheceu e percebe que duas estrias que antes não habitavam o seu corpo agora apareceram de mala e cuia. E você chora.

Chora sozinha olhando para o espelho. Chora sozinha olhando para o passado, pensando em como era linda e gostosa e de bem com a vida. Chora sozinha lembrando que não foi jantar naquele dia com aquelas amigas que você não vê há algum tempo porque depois que fosse embora certamente elas iriam comentar pelas suas costas nossa-como-a-fulaninha-embagulhou. E você, definitivamente, não quer que comentem o quanto você está ridiculamente feia. Já basta seu espelho que aponta o dedo para você e diz academia-academia-academia. Já basta a geladeira que liga aquela luz vermelha que diz carboidrato-não-carboidrato-não-carboidrato-não. Já basta ele, que diz que você está um pouco acima do peso quando na realidade você sabe que está muito acima do peso. Então, você chora mais e se sente pequena. Uma pequena grande, se é que isso é possível. E pensa consigo mesma: eu não me pegaria.
Aí começa o grande desespero. Qualquer folha de papel que sacode na rua parece mais interessante que você. Qualquer zinha parece perfeita. E você como sempre imperfeita. E você como sempre se coloca mais mil defeitos. E você como sempre pensa que não se pegaria. E a sua autoestima despenca do décimo quarto andar. E morre. E você quer se esconder dele, da vida, do mundo, de você mesma. Até que.
Você enfrenta ele, o espelho. O todo poderoso. O sincero. A coisa mais honesta que já inventaram na vida. E pensa: é só uma fase. É só uma gorda fase. Até as atrizes mais famosas já estiveram imensas. Até as mulheres mais lindas do mundo já estiveram acima do peso. E tenta se convencer que você não é o que você come. Não sou um pão de queijo, cara Gillian McKeith. Não sou uma tortinha de limão. Não sou uma lasanha de frango.
Então, você cola uma foto da Adriane Galisteu na geladeira. E uma foto de quando você era linda e gostosa e de bem com a vida. E se matricula na academia com o intuito de ir (porque a gente vive se matriculando com o intuito de apenas estar matriculada). E decide não comer carboidrato. E parar de se boicotar. E parar de se culpar. E parar de se detonar. E parar de se chamar de gorda. E parar de falar mal de você. E definitivamente decide perder todos os quilos que ganhou até chegar ao ponto de dizer agora-eu-me-pegaria-com-força.

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4 comentários

  1. ADOOOOOREI!
    A Clarissa sabe muito bem escrever o que todas as mulheres passam e isso é incrível. =D
    Beijooooooos
    Texto noovo http://psmylove4ever.blogspot.com/2011/09/o-jeito-agora-e-esquecer.html

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  2. Por isso, justamente adoro ela, quando vi o texto
    pensei ''Meu Deus, ele escreveu pra mim isso?''
    Vou olhar linda (:

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  3. Adorei muito seu blog, que ele seja de muito sucesso, viu?
    Seguindo aqui, adorei mt ! Venha me visitar tbm:http://www.pensamentosdasgirls.blogspot.com/

    beijos @maysa_lobo

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  4. Muito obrigada! espero que seja! se Deus quiser!
    vou olhar o seu linda!
    e obrigada pelo comentário fico muito feliz! (:
    obrigada mesmo!

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