Sobre a fragilidade das coisas - Clarissa Corrêa

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Você foi reprovada na escola e, ao invés de um abraço de conforto, vem a frase seja forte. Você fez cursinho, estudou muito mais do que os japoneses, não passou, tudo bem, Medicina é concorrido, mas seja forte, no próximo você passa-passa-passará. Você ficou noiva e um dia, ao chegar mais cedo do trabalho, encontrou o seu querido pelado-pelado-nu-com-a-mão-em-uma-loira, mas vai passar, vocês não combinavam mesmo, na verdade ele não tinha nada a ver com você, dizem os amigos, levanta, não te agarra na barra de chocolate e nos lencinhos de papel, vamos lá, seja forte. Sua mãe ficou doente, câncer, estado terminal, morfina na veia, mas seja forte. Um filho da puta bateu no seu carro novinho, seja forte e não cuspa na cara dele. Sua casa foi assaltada e você teve que dar tchauzinho para a televisão nova, computador, notebook, e tudo mais que você suou para conseguir, mas seja forte, trabalhe e consiga tudo outra vez. Você finalmente encontrou o amor da sua vida, engravidou e perdeu o bebê. Ei, não chora, seja forte, você é nova e ainda poderá ter mais 94 filhos, se quiser. Você se tornou uma médica conhecida e respeitada e sem querer perdeu um paciente. Seja forte, você vai superar. Você tem os seus traumas de infância e quando pensa neles sente uma tremenda vontade de abrir a fonte das lágrimas, mas não chore, engula o choro, você precisa ser forte.


Não entendo o porquê, mas o mundo diz que a gente tem que ser forte. Parece que é errado e feio e sujo demonstrar fraqueza, dizer que não consegue, admitir que o fundo do poço pode ter elevador - e ele só desce pra baixo (mais ainda). O que há de errado em perder o controle? Quem disse que tudo precisa ser certinho sempre? Por que a vida tem que estar sempre colorida, cada coisa em seu lugar, sem mistureba, sem abstratos e preto e branco?

O fraco não é cobrado por ser fraco. Já o forte, quando vacila, enxerga muitos dedos apontados na cara dele. Ah, você me decepcionou. Putz, não segurou a onda? O que houve com você? Qualé que é? Eu respondo, calma e claramente, o que acontece conosco, os fortes. Se você não sabe, sou um deles, uma delas. Muita gente diz que as mulheres não podem ser fortes. Engano de quem pensa assim. Já ouvi (ah, dizem tantas coisas!) que os sentimentais-emocionais-sensíveis são fracos. Espera aí. E espera aí de novo. Eu sou sentimentalóide-emocionalóide-sensivelóide-e-mongolóide (sim, eu sou!) e digo com todas as letras: sou forte. Nunca tive uma doença fodida nem passei fome nem morei embaixo da ponte. Mas não precisa acontecer nenhuma tragédia (ah, como as pessoas adoram o coitadismo!) grega-brasileira-irlandesa para a pessoa tirar a força de dentro do peito (ou de onde mais ela se esconder - sim, ela se esconde, meu amigo). Além do mais, me desculpe, nem eu nem você precisamos provar alguma coisa para quem quer que seja.

Sabe, um dia eu achei. Pensei que tinha que mostrar o quanto eu conseguia carregar algumas coisas (muitas minhas, porque todos nós temos que carregar nossos próprios pensamentos e, acredite, os meus pesam toneladas). Mas, com o passar do tempo e com goles fortes e quentes de maturidade, percebi que meu caminho é feito com meus pés, minhas pernas. Alguém anda por mim? No final de cada dia, quem sente aquela dorzinha no dedinho que só um scarpin faz por você? Ninguém sente a minha enxaqueca, minhas trocas de humor, minhas cólicas menstruais, ninguém paga as minhas contas, pensa o que eu penso, toma as decisões que preciso tomar. Por tudo isso, eu digo, se eu tenho que mostrar alguma coisa é pra mim. E por pensar dessa forma, sempre busquei me superar. Muitas vezes eu converso comigo mesma e digo força-força-força. Mas eu entendo que preciso me permitir sentir toda a fraqueza, vez ou outra.

Sempre fui de me doar. Ouvia, ajudava, consolava, me importava. E não foram poucas as vezes que, mesmo em segredo, eu deixava de pensar na minha vida pra ajudar os outros. Em segredo, explico, porque não acho que preciso de medalhas, prêmios ou troféus. Se eu faço, é de coração, sem esperar reconhecimento do outro. Mas, perdão, eu sou humana e sinto. O mínimo que a gente espera é gratidão. Aprendi que ela nem sempre aparece. Aprendi que às vezes as pessoas acham que o que a gente faz é pouco. Por tanto aprendizado, acabei descobrindo que é melhor eu cuidar mais da minha vida e menos da dos outros. Não quero morrer santa, quero morrer feliz. Então, a rebelião. Como assim? Onde ela está? Por que sumiu? Ai, meu Deus, como mudou. Não, eu continuo a mesma. Só que até o mesmo se transforma. E percebe que, guarde isso, ninguém vai andar ao seu lado. A gente aprende a caminhar sozinho, pode até ter o auxílio de alguma mão, um apoio, mas os passos são dados por você.

No meio do caminho, entre acontecimentos, atalhos e força, você percebe que precisa abrir uma brecha para a fragilidade se instalar. E que chorar alivia a alma. Mais do que isso: abrindo a janela pra fragilidade é que você descobre o quanto de força ainda resta para seguir em frente.

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3 comentários

  1. tava aqui vendo seu blog e gostei das imagens muito fofas aproveotei para salvar algumas para usar no meu blog, seguindo o seu se poder da uma passadinha no meu
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